Quarto dia de SOBRE2024 é marcado por debates sobre educação e relatos de experiências

No quarto dia de SOBRE2024, as duas principais plenárias levantaram importantes debates sobre educação e diversidade de olhares na restauração ecológica.

11 de julho de 2024

A conferência também recebeu a assembleia geral da SOBRE.

No quarto dia de SOBRE2024, as duas principais plenárias levantaram importantes debates sobre educação e diversidade de olhares na restauração ecológica.

A “SOBRE +10: O Futuro da Restauração - V Conferência Nacional de Restauração Ecológica” é promovida a cada dois anos pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) e nesta edição ocorre em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), com apoio do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).


Educação para a Restauração


A necessidade de ações educacionais democráticas, inclusivas, diversas e ativas no campo da restauração foi tema central na SOBRE2024, durante a plenária "Educação para a Restauração". Mediado por Alessandra Nasser Caiafa, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, o debate contou com a participação de Cínthia Rodrigues (Quero na Escola), Jerônimo Sansevero (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Aline Branquinho Silva (Embrapa) e Sebastião Alves (Serviço de Tecnologia Alternativa).

Logo no início, Alessandra destacou a importância dos professores: "Não existem restauradores, biólogos ou qualquer outra profissão sem professores. Eles trazem experiências que estimulam o desenvolvimento dos indivíduos e das instituições, promovendo responsabilidade social e econômica. Além disso, são capazes de respeitar a diversidade e integrar diferentes perspectivas."

Restauração na Escola

Cinthia Rodrigues, presidente da Quero na Escola, abordou a inserção da restauração ecológica no ensino fundamental e médio por meio da Olimpíada Restaura Natureza, que incentiva estudantes de 13 a 15 anos a iniciarem projetos de restauração em todo o Brasil.

Ela enfatizou que a educação para restauração vai além de técnicas de plantio e conservação, buscando despertar a consciência de que também somos parte do ecossistema, incluindo o social. Entretanto, essa visão ainda não é evidente nas escolas devido à história excludente da educação brasileira.

Essa mudança começou com a Constituição Cidadã de 1988, que tornou a educação um direito de todos. Posteriormente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e outras legislações obrigaram o ensino dos conhecimentos dos povos afro-brasileiros e indígenas nas escolas. O programa REstaura Natureza, apoiado pela WWF Brasil e alinhado com a Década da Restauração, leva os estudantes a refletirem sobre seus próprios contextos para propor como deve ser a restauração, restaurando também o vínculo da escola com a educação.

Desafios na educação superior

Jerônimo Sansevero, professor do departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, chamou a atenção para a concentração dos programas de pós-graduação no Sudeste, com poucas ofertas no Norte do Brasil, e destacou a ausência de programas específicos em restauração ecológica. Atualmente, existem 907 cursos de mestrado e doutorado profissionais, sendo 63 nas áreas de Ciências Agrárias, Biodiversidade, Geociências e Ciências Ambientais, que poderiam acolher uma pós na área da restauração.

Ele também relatou a experiência dos Ruralinos, um grupo de 20 alunos e dois professores que viajaram de Seropédica, no Rio de Janeiro, até Juazeiro, cruzando o Vale do Jequitinhonha e a Caatinga em uma jornada de 30 horas. Sem recursos financeiros, realizaram uma campanha de financiamento coletivo, arrecadando 12 mil reais. Jerônimo concluiu questionando a eficiência das metodologias pedagógicas, afirmando: "O futuro da restauração depende da educação!"





Educação popular


Sebastião Alves, educador popular e sócio-fundador do Seta, falou sobre educação popular, iniciando com a sua experiência da Comissão Pastoral da Terra e outros movimentos sociais na década de 1970, que formavam agentes multiplicadores focados no combate à seca, convivência com o semiárido e alfabetização funcional, pautados por Paulo Freire.

"Seca não pode ser mudada, é um fenômeno natural. Precisamos conviver com o semiárido. Se não houvesse seca, não haveria um sertão para viver, amar e aprender. O semiárido tem água suficiente para manter a vida e é isso que interessa", afirmou.

Sebastião questionou que é impossível fazer restauração sem valorizar o local onde as comunidades vivem, ensinando uma visão positiva do ambiente e valorizando suas abundâncias. "Precisamos aprender a comer caatinga, plantar água e irrigar com o sol. Aí vamos fazer a verdadeira restauração."


Diversos olhares para a restauração: histórias inspiradoras na SOBRE2024


Na plenária "Diversos Olhares para a Restauração", realizada durante a SOBRE2024, a moderadora Ludmila Pugliese, da Conservação Internacional, conduziu um painel repleto de histórias inspiradoras. Os palestrantes Iran Xukuru, da Terra Indígena Xukuru de Ororubá; Marcela, do Viveiro Mata Nativa; Marilza Machado e Osmar dos Santos, da Associação dos Produtores Rurais da Comunidade Ribeirão, compartilharam suas experiências e visões sobre a restauração ecológica em suas comunidades.

Marcela iniciou as falas contando que cresceu em grandes fazendas no Pontal do Paranapanema (SP), onde seu pai, migrante do Nordeste, trabalhava desmatando terras para fazendeiros. “Eu não sabia o que era meio ambiente, pois cresci no desmatamento”, conta.

Sua visão começou a mudar quando começou a trabalhar em um viveiro em 2013. Alguns anos depois, ao decidir empreender seu próprio viveiro, contou com o apoio do Instituto de Pesquisas Ecológicas - IPÊ para se desenvolver.

Inicialmente enfrentando dificuldades, hoje seu viveiro emprega oito pessoas. Por isso, ela destaca a importância do apoio. "Se a política pública não chega à comunidade, não avançamos", destaca Marcela, orgulhosa do trabalho que realiza.

Óleos essenciais, ancestralidade e cultura

Marilza Machado e Osmar Bernardo dos Santos lideram iniciativas de restauração ecológica na comunidade quilombola de Ribeirão, no extremo sul da Bahia. Em Alcobaça, eles trabalham com plantas medicinais, ancestralidade e cultura, produzindo óleos vegetais e essenciais.

A comunidade, formada por escravizados fugitivos há mais de 300 anos, é hoje composta por viveiristas, coletores de sementes e restauradores. Atualmente, 150 pessoas trabalham em 300 hectares com agricultura familiar, vendendo em Programas de Aquisição de Alimentos (PAA) ou feiras livres.

Utilizando conhecimentos ancestrais, especialmente sobre plantas ricas em óleos essenciais, a comunidade valoriza a sabedoria dos anciãos. Em parceria com o Fundo Ambiental do Sul Baiano (FASB), eles aumentaram a densidade de restauração, com capacidade produtiva de 180 mil mudas por ano e coleta de mais de 400 quilos de sementes nativas.

Terra viva

Iran Xukuru compartilhou sua experiência de restauração na Caatinga, na Terra Indígena Xukuru de Ororubá. Para ele, a terra é viva e deve ser tratada como mãe. Restaurar a terra envolve conhecer profundamente o local, “pois quem conhece não destrói”. "Cuidamos da morada dos espíritos", diz Iran, que defende uma restauração biocêntrica, onde a terra e todos os seres são igualmente importantes.

Ao final, ele emocionou os presentes ao compartilhar seus sonhos: caminhar em uma floresta regenerada, abraçar árvores enormes de modo que os dedos de cada mão não se toquem e não ver mais pássaros em gaiolas.

Para Iran, competir é uma invenção humana, alheia à natureza. Ele acredita que é necessário reconectar-se com a essência ancestral para efetivamente restaurar a terra.

Gênero e restauração

A mediadora Ludmila, uma pesquisadora das interseções entre gênero e restauração, destacou uma importante questão na finalização das palestras na SOBRE2024. "As mulheres ainda estão sendo pouco incluídas em projetos de restauração. Enfrentamos barreiras significativas, como discriminação e assédio. É fundamental desenvolver políticas públicas que abordem a diversidade e a inclusão nesses projetos", afirmou.

Ao final da plenária, representantes de 41 povos indígenas subiram ao palco para ler a carta do I Eire (I Encontro Indígena de Restauração Ecológica ), reforçando a importância de proteger as terras indígenas e os saberes ancestrais. Eles destacaram que as terras indígenas estão em 14% do território brasileiro e apenas 1% dessas terras são degradadas.

Eles reivindicam que sejam valorizados na cadeia de restauração - que preferem chamar de ninhos, ocupando espaços de discussão e deliberação. “Não querem ser meros executores que recebem projetos prontos de restauração. Que a SOBRE possa contar com mais protagonismo indígena na estrutura e nas plenárias principais das conferências”, conclamam.


Assembleia geral da SOBRE


O quinto dia de SOBRE2024 terminou com a assembleia geral da Sociedade Brasileira de Restauração (SOBRE), promotora do evento. A presidente Maria Otávia Crepaldi celebrou os dez anos da entidade, informando que a SOBRE conta hoje com 602 associados, entre profissionais da área e estudantes de graduação e pós-graduação, distribuídos em 23 estados do Brasil. Ela destacou as ações mais relevantes da gestão: o lançamento do Dispersar, com quatro cursos realizados; a participação na Conferência Mundial da SER; melhorias na Vitrine da Restauração; planejamento estratégico; a integração da Rede Sul de Restauração Ecológica; a aproximação com o MST; a realização da SOBRE2024 e o I Encontro Indígena de Restauração Ecológica (EIRE).

A segunda tesoureira Natalia Guerin apresentou a prestação de contas da entidade, demonstrando o crescimento da Sociedade nos últimos três anos. Em seguida, o secretário adjunto Ingo Isernhagen expôs o planejamento estratégico "SOBRE - presente, passado e futuro", que estabeleceu a missão e os valores da entidade e permitiu avanços na estrutura de governança da SOBRE, que ainda está em aprimoramento.

Alessandra Nasser Caiafa, secretária geral, apresentou os objetivos até o fim da gestão, incluindo o aprimoramento da estrutura de governança participativa, a revisão do Estatuto, a criação do Regimento da SOBRE, a eleição para a gestão 2025-2027, o lançamento do Edital SOBRE2026, o aprimoramento do Código de Ética e a continuidade da Vitrine da Restauração.

Ana Paula Rovdder, coordenadora da Rede Sul de Restauração Ecológica, falou sobre a história do coletivo que representa os biomas Pampa e Mata Atlântica Subtropical no Rio Grande do Sul. Ela ressaltou a importância da parceria com a SOBRE diante das tragédias climáticas no estado, onde 128 mil hectares de florestas foram atingidos por enchentes e houve mais de 4 mil deslizamentos de encostas florestadas.

No encerramento, a palavra foi aberta aos associados, que levantaram temas como a maior participação da juventude, mulheres e negros na cadeia da restauração ecológica. Ao final, houve a celebração do aniversário de 10 anos da SOBRE, com bolo personalizado e “Parabéns a você” em ritmo de forró.

A SOBRE2024 ocorre de 8 a 12 de julho em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).




You are donating to : Greennature Foundation

How much would you like to donate?
$10 $20 $30
Would you like to make regular donations? I would like to make donation(s)
How many times would you like this to recur? (including this payment) *
Name *
Last Name *
Email *
Phone
Address
Additional Note
paypalstripe
Loading...