Plenária final da SOBRE2024 discute a importância das inovações em conexão com conhecimento tradicional

A união do conhecimento tradicional e científico para impulsionar a restauração ecológica em grande escala foi tema do debate

12 de julho de 2024

A plenária final da SOBRE2024, com o tema “Inovações para Restauração em Escala”, foi moderada por Danielle Celentano, do Instituto Socioambiental, e contou com a presença dos palestrantes Robin Chazdon (University of the Sunshine Coast), Pedro Henrique S. Brancalion (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz da Universidade de São Paulo) e Maxmiller Ferreira (Universidade de Brasília).

A “SOBRE +10: O Futuro da Restauração - V Conferência Nacional de Restauração Ecológica” é promovida a cada dois anos pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) e nesta edição ocorre em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), com apoio do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).

Danielle iniciou agradecendo aos agricultores, quilombolas e povos indígenas presentes. "Inovação é encontrar uma forma nova de fazer as coisas, uma mudança na forma de pensar e agir. Neste contexto, a união do conhecimento tradicional, científico e empírico é fundamental para o futuro da restauração e da existência", afirmou.


Restauração biocêntrica


Robin Chazdon, University of the Sunshine Coast, destacou a importância das inovações e redescobertas para auxiliar a regeneração natural das florestas, propondo uma perspectiva biocêntrica. Ela argumentou que fazemos parte da natureza e não somos separados dela, e que a restauração deve ocorrer como um relacionamento de longo prazo, melhorando as funções e capacidades das áreas e nutrindo os seres vivos com integridade e conexão socioecológica.

Segundo Robin, a regeneração natural foi responsável por 32 a 65% do ganho de cobertura arbórea entre 2000 e 2012, com o Brasil respondendo por 20,3% do potencial global, sendo o campeão mundial.

"Temos conhecimento científico e indígena para a regeneração natural e milhões de hectares em oportunidades. O maior impedimento é conceitual: entender os sistemas ecológicos sob uma perspectiva econômica, que vê os ecossistemas apenas para nosso benefício e uso", disse.

SEMEADURA DIRETA

Maxmiller Ferreira, da Universidade de Brasília, discutiu a técnica de semeadura direta no solo, destacando que esta tecnologia foi inspirada por pássaros e povos originários. Ele explicou que, na floresta, a semeadura direta começa com um grupo vegetal para cobrir o solo, seguido por espécies arbustivas pioneiras e, por fim, espécies tardias.

O pesquisador compartilhou resultados de pesquisas no Xingu, onde, em dez anos, uma floresta secundária foi capaz de se desenvolver, com produção de 80 toneladas de biomassa em 15 anos.

Maxmiller enfatizou a importância de coletar sementes antes da maturação e investir em seu beneficiamento e armazenamento corretos, além de implantar bem, monitorar e manejar a área como um agricultor cuidadoso.

"Em restauração, é preciso manejar e cuidar, como fazem os agricultores, quilombolas e indígenas que estão preocupados com o futuro. O caminho é sempre associar ciência e prática", afirmou.


Monitoramento da restauração


Pedro Henrique S. Brancalion, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (USP), abordou inovações para o monitoramento de restauração, destacando como novas ferramentas de sensoriamento remoto e inteligência artificial vão revolucionar o processo.

Ele criticou o monitoramento atual, que muitas vezes foca apenas em cumprir demandas legais, sem a precisão necessária para identificar benefícios.

Apresentou, ainda, três frentes de inovação – Brazilian Team, Newfor e Re.Green – que trazem uma visão mais ampla sobre o uso de novas tecnologias para o monitoramento em larga escala.

Pedro destacou o desafio de individualizar nas paisagens os diferentes métodos de restauração e ressaltou que, embora complementares, essas tecnologias não substituem as metodologias tradicionais de campo.


Reflexões finais


Danielle Celentano encerrou a plenária refletindo sobre a necessidade de reconhecer que ciência e tecnologia não nos salvarão da crise ambiental sozinhas. "O ambiente degradado é reflexo de uma sociedade degradada, que reflete pessoas com ambientes mentais poluídos, doentes e com déficit de natureza. Precisamos promover a restauração ecológica integral, conectando a cultura humana à natureza", disse. Ela enfatizou que a tarefa mais urgente é cuidar do planeta Terra e de todas as pessoas que nele habitam.


Encerramento da SOBRE2024 celebra sucesso do evento


O encerramento da SOBRE2024 foi marcado por um clima de celebração e saudades. O presidente da Conferência, professor Renato Garcia Rodrigues, iniciou a cerimônia agradecendo aos patrocinadores, sem os quais o evento não teria sido possível: Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), União Pela Restauração (Conservation International, The Nature Conservancy, WRI e WWF), Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), GEF Terrestre, Conselho Federal de Biologia (CFBio), Instituto Água e Terra, projeto Rehabitar Ararinha Azul e Ceiba, além do apoio institucional do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.

Houve também um momento de premiação dos vídeos e pôsteres apresentados.

A SOBRE2024 bateu todos os recordes, com 946 inscritos – a maioria mulheres – e a realização de 6 plenárias, 54 sessões simultâneas, 350 pôsteres e 60 vídeos apresentados, 5 visitas de campo e 10 minicursos. Além disso, reuniu participantes de todos os estados do Brasil e teve uma representação diversa, com 100 pessoas inscritas no primeiro Encontro Indígena de Restauração Ecológica (Eire) e representação do Movimento Sem Terra (MST). O evento também assistiu ao surgimento dos grupos Germinar – Jovens na Restauração e Nativas – Mulheres na Restauração.

Ao final, Rodrigues fez um agradecimento especial aos monitores e aos funcionários do NEMA. "É um grande orgulho receber a todos. O sertão nordestino é espetacular, e agora é hora de seu povo ter voz. Todos os estados brasileiros viraram caatinga; foi um momento histórico de levar uma impressão diversa do semiárido em relação ao que temos no imaginário. Ter todos vocês aqui é motivo de muita honra", disse.

A SOBRE2024 ocorre de 8 a 12 de julho em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).







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