Restauração Ecológica

ENTRE OS PARTICIPANTES, HOUVE, CONSENSO SOBRE A NECESSIDADE DE MOBILIZAR ESFORÇOS PARA QUE A RESTAURAÇÃO SEJA UMA SOLUÇÃO EFICAZ AOS DESASTRES AMBIENTAIS

A Rede Sul de Restauração Ecológica, com o apoio da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE), promoveu recentemente um webinário dedicado à discussão dos impactos das enchentes no Rio Grande do Sul, analisados sob a perspectiva da restauração ecológica.

Com foco nas regiões mais afetadas, como a Quarta Colônia, Vale do Taquari, Lagoa dos Patos e a região Metropolitana de Porto Alegre, o evento reuniu especialistas para refletir sobre os desafios e caminhos para a recuperação dessas áreas. Entre os participantes, houve consenso sobre a necessidade de mobilizar esforços para que a restauração se apresente como uma solução eficaz aos desastres ambientais.

Na abertura, Ingo Isernhagen, secretário adjunto da SOBRE, apresentou a entidade e destacou programas importantes, como o Dispersar e a Vitrine da Restauração.

Em seguida, os palestrantes convidados, que possuem ampla vivência nas regiões mais afetadas pelas enchentes, fizeram suas apresentações. Elisete Maria de Freitas (Univates), Ana Paula Rovedder (NEPRADE/UFSM), Alice Roitman (LECOPAI/UFRGS) e Ernestino Guarino (Embrapa Clima Temperado) são especialistas em restauração ecológica e trabalham diretamente com as comunidades e ecossistemas impactados. A participação deles enriqueceu o debate ao trazer análises detalhadas e estratégias baseadas em suas pesquisas.

Assista à live completa aqui

Vale do Taquari

Elisete Maria de Freitas apresentou a situação da bacia hidrográfica do Vale do Taquari, uma das mais afetadas pelas enchentes. Ela destacou a erosão severa, a destruição de pontes e o alargamento dos rios. A redução drástica da vegetação nativa agrava o problema, uma vez que a cobertura vegetal atual é de apenas 31% do necessário. Elisete criticou o mito de que as árvores são responsáveis pela degradação das margens dos rios e defendeu a restauração da mata ciliar como fundamental para a recuperação das áreas atingidas.

Ela ainda mencionou as técnicas de engenharia natural aplicadas, que demonstraram eficácia na estabilização de algumas margens, mas enfatizou a necessidade urgente de mais recursos, mudas e mão de obra para expandir essas ações.

Corredor Ecológico da Quarta Colônia

Ana Paula Rovedder abordou os impactos das enchentes nas áreas do Corredor Ecológico da Quarta Colônia, que abriga remanescentes florestais e comunidades indígenas e quilombolas. Com uma grande importância para a segurança alimentar e a produção de água, essa região sofreu perdas significativas em vinícolas e outras atividades produtivas. Ana frisou a necessidade de repensar a relação com as áreas não produtivas, que são essenciais para a manutenção do equilíbrio ecológico. A urgência de mudanças radicais nas práticas de uso do solo e a superação do negacionismo climático foram outros temas de sua fala.

Região Metropolitana de Porto Alegre

Alice Roitman discutiu os efeitos das enchentes na região metropolitana de Porto Alegre, onde mesmo áreas protegidas sofreram severos danos. Ela enfatizou a importância de restaurar áreas nas partes mais altas das bacias hidrográficas e próximas às nascentes, como forma de prevenir futuros desastres. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi destacado como uma ferramenta potencial para planejar melhor as áreas de preservação permanente e reservas naturais. Alice propôs, ainda, a criação de parques de proteção em áreas sensíveis para mitigar os riscos climáticos.

Laguna dos Patos

Ernestino Guarino detalhou os impactos das enchentes nas áreas costeiras da Laguna dos Patos e suas consequências para a agropecuária local. Ele alertou sobre os prejuízos causados pela monocultura, como o avanço das águas sobre campos de soja não colhidos, que resultaram em perdas consideráveis. Ernestino também chamou a atenção para a necessidade de uma mudança de mentalidade, principalmente entre as novas gerações, visando a um compromisso maior com o uso sustentável dos recursos naturais no Rio Grande do Sul.

Olhar para o futuro

O webinário reforçou a importância da mobilização de esforços coordenados para garantir que as ações de restauração ecológica no Rio Grande do Sul sejam eficientes e duradouras. Para os debatedores, é essencial que haja investimentos adequados para a recuperação das áreas atingidas e para prevenir futuros desastres. A restauração ecológica, nesse contexto, surge como uma estratégia fundamental, mas exige compromisso governamental, econômico e social para que os ecossistemas recuperados possam oferecer resiliência e segurança para as comunidades afetadas.