Princípios da SER

Princípios da SER e as reflexões sobre a COP30: webinário reforça base científica e social da restauração ecológica

07 de novembro de 2025

O Dispersar e a Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) realizaram o webinário “Princípios da Restauração da SER e suas reflexões nas discussões da COP30”, disponível na íntegra no YouTube.

O encontro reuniu especialistas e representantes de instituições públicas e do terceiro setor para discutir como os princípios da Sociedade Internacional de Restauração Ecológica (SER) podem orientar políticas, práticas e alianças que sustentam a restauração ecológica no Brasil e no mundo.

Restauração: além da técnica, um processo de reconstrução ecológica e social


A abertura do evento foi conduzida por Luiz Fernando Duarte de Moraes (Embrapa / SOBRE), que apresentou o tema “Princípios da SER e da percepção pelos atores da restauração”. Ao abrir o webinário, ele destacou que o evento marca um momento de virada na consolidação de um programa contínuo de debates e capacitação promovido pela SOBRE e pelo Dispersar.

Segundo Moraes, compreender os princípios da restauração é essencial para fortalecer o campo e alinhar práticas com objetivos de longo prazo. “Não são as técnicas que diferenciam os projetos, mas os contextos, as escalas de tempo e os objetivos que moldam cada abordagem”, afirmou. A restauração, acrescentou, não diz respeito a voltar ao passado, mas de ampliar o potencial para que ecossistemas e comunidades se recomponham, se adaptem e evoluam.

Ele lembrou que a restauração ecológica é definida como o processo de auxiliar a recuperação de um ecossistema degradado, danificado ou destruído, por meio de ações propositais que visam restabelecer sua estabilidade e sustentabilidade. Trata-se, portanto, de uma prática complexa, que exige tempo, conhecimento e articulação social.


Os oito princípios da SER


Durante sua fala, Moraes apresentou os oito princípios fundamentais da restauração ecológica definidos pela SER, que servem de referência global para o planejamento e a execução de projetos:

1. Engajamento das partes interessadas: o sucesso depende do envolvimento direto de comunidades, gestores e demais atores do território. Reconhecer expectativas, dialogar e construir confiança são etapas centrais, especialmente em contextos marcados por desigualdades e conflitos.
2. Integração de múltiplos tipos de conhecimento: a restauração se fortalece quando une ciência, saber local, experiência prática e conhecimento tradicional.
3. Uso de ecossistemas de referência nativos: compreender o ecossistema original permite planejar uma visão compartilhada e realista para a recuperação. O modelo de referência não é uma réplica do passado, mas uma condição aproximada de equilíbrio ecológico possível hoje.
4. Apoio aos processos de restauração: cada ação deve criar condições para que o ecossistema recupere suas funções por conta própria, favorecendo processos naturais de regeneração.
5. Definição de objetivos e metas claras: um bom projeto parte de uma visão, define alvos e estabelece metas mensuráveis, acompanhadas por indicadores e monitoramento contínuo.
6. Busca do mais alto nível de recuperação alcançável: cada contexto tem limites, mas o esforço deve ser direcionado à recuperação máxima possível, considerando a resiliência ecológica e social do território.
7. Pensar a restauração em larga escala: ecossistemas funcionam em escalas de paisagem e bacia hidrográfica. Projetos isolados só ganham efetividade quando conectados a estratégias regionais.
8. A restauração como parte de um continuum de atividades restaurativas: diferentes ações, como reabilitação, manejo e conservação, formam um contínuo interdependente voltado à sustentabilidade ecológica.

Esses princípios, lembrou Moraes, servem de guia para definir critérios, padrões e métricas que assegurem coerência e transparência às iniciativas de restauração.


Percepções sobre os Standards da SER


Uma pesquisa apresentada por Moraes com integrantes da Rede Brasileira de Restauração Ecológica (Rebre) mostrou que 61% dos respondentes conhecem os Standards da SER, e mais da metade já aplica seus conceitos em atividades de campo, ensino e capacitação.

De modo geral, os participantes reconhecem os Standards como instrumentos que qualificam o planejamento, orientam o monitoramento e fortalecem o manejo adaptativo. Também destacam seu papel formativo, sendo utilizados em cursos de graduação, pós-graduação e treinamentos técnicos, além de servirem como base teórica para divulgação científica e elaboração de políticas públicas.


Uma ágora para políticas públicas de restauração


Na segunda palestra, Rafael Chaves, da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo (Semil/SP), apresentou o tema “Uma ágora para políticas públicas de restauração”. Ele explicou que a escolha do termo “ágora” remete às antigas cidades gregas, onde a ágora era o espaço de encontro e debate dos cidadãos, um símbolo da democracia ateniense.

Com essa analogia, Chaves propôs que os princípios da SER funcionem como uma “ágora” para a restauração, um espaço conceitual que:
  • facilita convergências entre diferentes atores e setores;
  • orienta conceitos utilizados em normativas e políticas públicas;
  • contribui para o cumprimento de marcos legais;
  • estimula o intercâmbio de aprendizados e a atualização de práticas;
  • aproxima a restauração das pessoas, reconhecendo que ela é feita de baixo para cima, por quem vive e trabalha nos territórios.
Com base em sua experiência na gestão pública, Chaves mostrou exemplos práticos de como os princípios têm servido de base para políticas integradas, reforçando a importância de traduzir o conhecimento técnico em ferramentas de governança e participação.

A adoção dos princípios na prática do terceiro setor


Encerrando o webinário, Ludmila Pugliese, diretora da Conservação Internacional (CI), apresentou a palestra “Adoção dos princípios em ações de organizações do terceiro setor”.

Ela trouxe a experiência da CI, que tem como meta restaurar 500 mil hectares até 2030, aplicando os princípios da SER em todas as etapas dos projetos, do planejamento ao monitoramento.

Ludmila estruturou sua fala respondendo a perguntas que norteiam a prática restaurativa: Quem participa? Quais saberes são envolvidos? Como planejar e acompanhar? Como medir o progresso e alcançar o mais alto nível de recuperação?

Suas respostas enfatizaram governança, participação e integração de saberes com inclusão social, destacando o protagonismo de grupos tradicionalmente sub-representados. Ela explicou que a CI realiza mapeamento de partes interessadas e elabora planos de engajamento que identificam atores, papéis e necessidades locais. Oficinas e webinários, como o realizado para o Planaveg, também são estratégias recorrentes para construção colaborativa de políticas públicas.

Entre as práticas sistematizadas pela CI, estão:
  • incorporação de múltiplos conhecimentos;
  • definição de ecossistemas de referência;
  • apoio a processos de restauração com base em dados e monitoramento de qualidade;
  • avaliação com indicadores claros;
  • análise de escala e cumulatividade;
  • e manutenção do caráter contínuo das ações restaurativas.

Ludmila concluiu destacando que os princípios da SER dialogam diretamente com as agendas da COP30, sobretudo nas dimensões de justiça climática e soluções baseadas na natureza. “A restauração é viável, tem base científica e social sólida. O que ainda falta é incentivo financeiro e maior engajamento político para ampliar sua escala”, afirmou, lembrando que o Brasil tem se destacado globalmente na integração entre ciência, políticas públicas e inclusão social.

Consolidar o legado da Década da Restauração


Encerrando o encontro, Luiz Fernando Moraes lançou uma reflexão: “Como será o pós-Década da Restauração? Este não pode ser nosso último momento de sobrevivência no planeta.” Para ele, é hora de consolidar o arcabouço construído, ampliando a capacitação, a disseminação do conhecimento e a articulação entre redes. “O Brasil vem construindo um protagonismo na restauração porque aprendeu a ouvir, se ouvir e aprender. A SOBRE se propõe a continuar esse movimento, escutando, colaborando e fazendo interlocução. Também somos um processo, e todos são convidados a participar. O Dispersar se conecta diretamente a esse objetivo.”




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