Debate Nacional

SOBRE participa de debate nacional pela restauração em escala para o cumprimento das NDCs

02 de setembro de 2025

A Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) participou em agosto de 2025 do encerramento do evento “Restauração em escala para o cumprimento das NDCs: desafios e oportunidades de cooperação”, promovido pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), Instituto Belterra e Nativas Brasil, rede que reúne produtores de mudas de espécies nativas.

O encontro, que integrou a programação do Rio Climate Action Week, reuniu atores de diferentes elos da cadeia da restauração para debater gargalos e soluções coletivas capazes de ampliar a escala da restauração no Brasil.

A abertura do evento trouxe as falas das três instituições anfitriãs. Os representantes destacaram a importância do trabalho em rede para dar escala à restauração e a necessidade de enfrentar os gargalos ligados à titularidade da terra e ao uso do solo, que precisa ser orientado por bases mais sustentáveis.

Na sequência, o Diretor de Florestas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Thiago Belote da Silva, apresentou a Palestra Magna. Ele reforçou como a restauração atende a diferentes agendas ambientais globais - incluindo biodiversidade, clima e combate à desertificação - e destacou que seu avanço depende de três pilares: ciência, recursos financeiros e políticas públicas.

Belote também apresentou o PLANAVEG e enfatizou a necessidade de engajamento amplo para o sucesso do plano, encerrando com a reflexão de que a restauração não pode ficar refém de um único contexto ou abordagem.


SOBRE resgata história da restauração


A participação do presidente da SOBRE, Luiz Fernando Duarte de Moraes, resultou em uma fala de caráter histórico e reflexivo. Ele iniciou retomando os debates da abertura, conectando o conceito de rede à ideia de construção coletiva e cooperação, essenciais para alcançar o tão discutido ganho de escala.

Luiz relembrou sua trajetória na área, que começou em 1994, quando ainda não se usava o termo “restauração ecológica”. Segundo ele, naquele período havia grande resistência, tanto de setores contrários à agenda ambiental, que defendiam apenas florestas de caráter econômico, como de críticos que viam a restauração como uma ação limitada ao plantio de árvores, sem foco nos processos ecológicos ou na fauna.

Essa visão, segundo ele, começou a mudar a partir de marcos coletivos, como a criação do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, em 2009, e da Rede Brasileira de Restauração Ecológica (Rebre), em 2010. Ambos demonstraram que a restauração era possível e abriram caminho para a consolidação de iniciativas.

Nesse contexto, nasceu a própria SOBRE, em 2014, fruto de uma proposição da Rebre. “A SOBRE surge de baixo para cima, com espírito de protagonismo amplo, participação voluntária e democrática”, destacou. Para Luiz, essa origem dá à entidade um potencial agregador que se reflete em sua atuação atual.

O presidente também dialogou com reflexões trazidas por outros participantes, como a preocupação de que a ênfase excessiva no mercado de carbono enfraqueça a contribuição da restauração à conservação da biodiversidade. Ele ponderou que os sistemas agroflorestais (SAFs) são reconhecidos como práticas de restauração produtiva, mas que não se deve perder de vista a importância da restauração em áreas de preservação permanente e de reserva legal, fundamentais para a biodiversidade.

Luiz destacou ainda a relevância da capacitação técnica e apresentou o Dispersar, programa da SOBRE que oferece cursos de formação continuada em restauração de ecossistemas. Segundo ele, o projeto é um exemplo concreto do espírito colaborativo da entidade, já que nasceu de demandas apresentadas por organizações parceiras.

Ao encerrar, o presidente ressaltou o papel estratégico da integração de saberes. Mencionou a aproximação da SOBRE com comunidades indígenas interessadas em restauração, coordenada pela FUNAI, como exemplo de troca enriquecedora entre conhecimentos tradicionais e técnicas modernas. “Essa integração de iniciativas, interesses e saberes é o que pode gerar o grande engajamento que a restauração precisa”, concluiu.


Painéis debatem restauração produtiva e cadeia de valor


Após a abertura do evento, os participantes assistiram dois painéis temáticos. O primeiro deles, entitulado “ Restauração produtiva e SAFs”, discutiu as contribuições da restauração produtiva e dos sistemas agroflorestais (SAFs) para acelerar o ganho de escala. Participaram representantes da Courageous Land, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e dos setores financeiro (BNDES e Banco Mundial).

O debate girou em torno de quatro eixos: ambiente regulatório, questão fundiária, modelos de negócio e cadeia produtiva. Os expositores ressaltaram que os SAFs têm potencial para ampliar a escala da restauração, mas apontaram desafios como capacitação de agricultores familiares para manejar os sistemas, facilitação do acesso a crédito e ampliação de canais de comercialização.

Também destacaram que o sistema financeiro precisa ser orientado para disponibilizar recursos de forma mais acessível. Foi lembrado ainda que a restauração pode ter custos altos e, neste contexto, o mercado de carbono apareceu como possível catalisador, embora com o risco de reduzir a centralidade da biodiversidade na agenda.

Já o segundo painel tratou do tema “Cadeia de valor da restauração ecológica”. Os debates apontaram problemas recorrentes na base da cadeia, como a escassez de sementes e a desarticulação entre produção e demanda de mudas, o que dificulta o planejamento econômico dos viveiristas e aumenta os riscos do negócio. Os participantes chamaram atenção para a questão da previsibilidade, destacando que, sem clareza sobre espécies e quantidades demandadas, os produtores atuam de forma intuitiva.

Do ponto de vista econômico, discutiu-se novamente o papel do mercado de carbono, com ênfase na necessidade de encontrar formas de incluir pequenas propriedades no processo, hoje pouco contempladas por um mercado voltado a médios e grandes produtores.




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